TRABALHOS DE ALUNOS
Conheça alguns trabalhos produzidos por nossos alunos …
SAUDADE
Quando criança, morava num lugar mágico. Havia o mar… As casas coloridas, os pescadores com seus barcos. E as velas! Ah, as velas coloridas pareciam asas, que queriam voar.
“ Elas falavam com o vento”.
— Oi estamos aqui, vem nos levar para longe, para outras paisagens deste mundo tão lindo que Deus nos deu. Hoje estamos mais coloridas do que nunca, porque estamos muito alegres. O sol nos aquece, as aves vêm nos saudar. Queremos levar estes barcos, bem longe, onde a vista não alcança.
Queremos conhecer outros povos, outros lugares, mas temos a certeza de que não encontraremos um lugar mais acolhedor que este. Então vamos voltar, saudosas, para rever nosso “cantinho amoroso”, nossos amigos que nos admiram e que nos querem bem. Voltar a ver as ruas de pedras e as casas coloridas, tudo muito lindo.
E eu, como as velas coloridas, também quero voltar para o “cantinho amoroso”, de onde um dia eu saí para estudar, crescer, ser alguém, construir uma família.
Conheci muitos lugares e muitas pessoas.
Sempre disse à minha família que eu nascera num lugar mágico, e vivi minha infância ali, muito feliz e que um dia eu os levaria para lá, para que também se sentissem enfeitiçados pela beleza e simplicidade do lugar.
Demorei muito para voltar.
Hoje, já não tenho a juventude de outrora. Mas o lugar ainda está lá. Com seus barcos, as gaivotas voando ao lado das velas coloridas. Elas parecem dizer:
— Que bom que você voltou, estamos felizes!
E as suas cores ficam ainda mais vivas, mais vibrantes e se mexem num ritmo suave, acompanhando o vento amigo …
S. C. Claro– 73 anos
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
LEMBRANÇA
Esta imagem me fez lembrar do meu fascínio que sempre tive por portas, portões de qualquer tipo: madeira, ferro, etc. Sempre gostei de ver portões, nunca presto atenção na casa, mas portão sim.
Mas a lembrança maior, à primeira vista, foram os arranjos florais. Lembrei do Luiz. Era um vitrinista da loja onde trabalhei por muitos anos.
Era uma loja de enxovais e roupas para dormir. Tínhamos jogos lindos de lençóis, edredons, com muita renda, bordados finos, camisolas lindas, robes, pijamas, etc.
O Luiz era extremamente caprichoso, até demais, eu diria. Era perfeccionista. Tudo tinha que estar muito bem passado, às vezes ele mesmo passava alguma peça que achava que não estava perfeito, do seu gosto.
Arrumava as peças na vitrine e colocava arranjos de flores, que ele mesmo montava. Muitas flores, em cestas, vasos. Colocava em pontos diversos da vitrine. Chamava a atenção de quem passava.
Por isso, ao ver a imagem do portão com todos os vasos e flores eu me lembrei do Luiz. Aqueles vasos no chão, são como os que ele colocava na vitrine.
S. C. Claro– 73 anos
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
M. C. N. S. dos Santos– 62 anos
UMA TARDE NO LAGO
José e Daniel, pai e filho, em um final de tarde, após terem descansado embaixo da sombra de uma árvore muito linda, toda florida de vermelho, resolveram fazer um passeio pela estrada afora.
Os dois descobriram que logo ali havia um lago, então, pegaram uma vara e um baldinho e foram pescar para se distrair, e trazer alguns peixes para o jantar.
O céu estava tão azul e a plantação verde, com alguns raios de sol, pois era final de tarde. Caminhavam de mãos dadas, conversando, admirando a paisagem que lhes transmitia muita paz, serenidade e tranquilidade.
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
MEMÓRIAS
E lá estava eu parada, quieta olhando para esta paisagem paradisíaca. Feliz diante de tanta beleza, mas a cabeça vazia de pensamentos.
De repente, como querendo abrir todos os laços da memória, vi o começo de tudo. As mesmas flores, árvores e estrada de terra batida, e aí me recordei de todas as vezes que aqui estivemos. As conversas sobre a vida, os planos para o futuro.
Lembrei do dia do passeio de bicicleta. Que tombo! E assim as lembranças foram chegando, uma a uma, com a clareza de um dia radiante de sol.
Só que de repente me vi só, e há tempos assim estou. Mas aprendi através dos anos, que devo me bastar, ter forças e levantar a cabeça para seguir em frente. E sou feliz, muito feliz ao perceber que estas recordações vivem comigo, e são elas que me levam adiante.
Então, entrei na estrada de terra batida, e segui sorrindo até o infinito.
M. S. Urenhiuki– 71 anos
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
LEMBRANÇAS
Foi pedido que fizesse uma história, baseando-me na imagem apresentada, um pequeno coelho entre flores.
Assim que vi a imagem, lembranças de minha infância vieram como um filme, que fosse passando lentamente os meus olhos.
Fui criada até dez anos de idade em um apartamento, em avenida de grande movimento; era como um pássaro preso em gaiola. Não tinha até essa idade colocado as mãos em terra, tomado chuva, plantado uma plantinha.
Em 1951, meu pai decidiu que nos mudaríamos e viemos morar neste bairro, Campo Grande, para que meus pais pudessem dar melhor assistência aos meus avós, que já eram bem velhinhos. A princípio, odiei. Fiquei sem escola, as ruas não tinham asfalto, não tínhamos energia elétrica e nem água encanada, a igreja estava em construção, e o atual Colégio Professor Isaltino de Mello também.
Imaginem eu, criada em apartamento, com toda infraestrutura, estudando em colégio de freira (Capela todos os dias e missa todos os domingos), mas como dizem, tudo passa, tudo muda.
As coisas foram mudando e pouco tempo após nossa mudança, graças à professora Maria de Lurdes Nogueira, que em sua casa abriu duas salas de aula que serviriam de extensão à escola, que era uma pequena casa de madeira, consegui terminar o terceiro ano primário.
Em 1952 o colégio foi inaugurado e cursei o quarto ano. O meu problema “escola” estava resolvido. Outras coisas foram acontecendo, como a inauguração da Igreja Santa Gertrudes, importante para mim na época, o asfalto, a energia elétrica, as primeiras casas comerciais.
Minha vida mudou completamente, nossa casa construída no centro de um terreno grande, tinha espaço para jardim na frente e nas laterais. Nos fundos, horta e alguns viveiros de pequenos animais. O jardim tinha muitas margaridas e roseiras lindas, na lateral direita, dálias e violetas. Como me sentia feliz ajudando minha avó no cultivo dessas flores.
A horta sempre verdinha, nos fornecia legumes e verduras. Como era bom regar as plantas, e não no momento certo colher o que ali era produzido.
E nos viveiros, tínhamos os coelhinhos, galinhas, peru, e até um porquinho, e nosso cão radar.
Vi, com o passar do tempo, como é bom viver livre, em contato com a natureza.
O que eu mais gostava era o jardim de margaridas e os meus coelhinhos!
Cresci, estudei, parti para novos desafios, nem sempre tão simples e prazerosos.
Hoje me arrependo das vezes que chorei por ter mudado para este bairro, pois entendo quando meus pais sofreram com minhas reclamações. Se pudesse voltar ao passado, queria aquela vida simples, curtindo meus coelhinhos e as margaridas. Como era bom, era feliz e não sabia.
M. C. N. S. dos Santos– 62 anos
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
S. E. W. Souza– 65 anos
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
O MASCOTE
Agora contarei uma história que criei através de uma imagem.
Numa destas minhas andanças pelo mundo (só em sonho), encontrei um grupo de turistas que visitava Nepal. Fizemos amizade e em uma conversa eles tinham o mesmo interesse que eu: conhecer o habitat dos felinos, os tigres, que apesar do receio, nos causava grande curiosidade pela fama da beleza de ser um grande predador.
Sabíamos ser perigoso, não tínhamos conhecimento da região e não entendíamos nada a respeito de tigres, além das pesquisas realizadas na internet.
Fomos apresentados a uma pessoa a qual seria nosso guia e que conhecia tudo o que precisávamos.
Assim, no dia seguinte ao amanhecer de um belo e ensolarado dia, partimos para a nossa aventura.
Estávamos em oito pessoas em um carro grande, mais o guia, que era também o motorista. Depois de percorrer uma longa estrada de terra muito arborizada, com arbustos altos e verdinhos, com pequeninas flores brancas e amarelas, por mais de três horas, adentramos uma estreita trilha onde somente um carro passava, e depois de cinco horas de viagem chegamos ao covil.
A cena era fascinante. Lá se encontrava várias tigresas com sua ninhada de tigrinhos, e apesar dos filhotes serem pequeninos, eles corriam de lá para cá, brincando com suas mães. De longe observávamos e percebemos que já estavam colocando em prática seus instintos de caçadores.
Mas, o que mais nos chamou a atenção foi a tigresa com seu filhotinho que estava acoplada a um tronco de árvore. Seu bebê, com poucas semanas de idade, permanecia junto da mãe e ela roçava sua cabecinha com seu rosto carinhosamente, com amor, parecia um ser humano. Ficamos em tecidos neste momento.
Os outros maiores, firmes e ágeis, com graciosidade brincavam com a mãe, correndo sempre…. Estávamos alheios como as cenas, quando de repente ouvimos um rugido assustador, que se não estivéssemos seguros dentro do carro, acredito que teríamos corrido 100 anos sem parar. O guia nos explicou que certamente o tigre estaria há mais ou menos uns três quilômetros de distância, e que ele é muito paciente, mas, mais impressionante que o seu rugido é o seu silêncio, sua emboscada é silenciosa, ele aparece do nada.
O tigre é um belo animal, com suas listras de muitas cores; é a sua impressão digital, não existe um que seja igual ao outro, seu porte inspira medo, admiração, e ao mesmo tempo respeito, autoridade, força…
Hoje, o tigre é símbolo de conservação da natureza, ele gosta e necessita de árvores, vegetação e águas claras.
Algumas empresas asiáticas tem o tigre como animal mascote, que representa a força, a autoridade, a coragem, o respeito, para demonstrar um acelerado desenvolvimento industrial e econômico.
OS TRÊS REIS MAGOS
Segundo a tradição, os Reis Magos eram três:
Gaspar – rei da Índia
Melchior – rei da Pérsia
Baltazar – rei da Arábia
Eles caminhavam pelas montanhas, em cima de seus dromedários, seguindo a Estrela de Belém.
O céu era muito azul, a estrela brilhava parecendo já com o entardecer. Durante o dia fazia muito calor e eles usavam turbantes para se protegerem do Sol, e roupas compridas para se protegerem do frio e do calor.
Os dromedários usavam arreios ornamentados e cavalgavam lentamente por causa do cansaço.
Nos presépios, os Reis Magos são colocados levando presentes para o menino Jesus. Eram ouro, incenso e mirra.
Eles são mencionados no Evangelho Apócrifo Armeno da Infância, no fim do século VI.
Um anjo do Senhor foi depressa ao País dos persas, para avisar os Reis Magos e ordenar a eles de irem adornar o menino que acabara de nascer. Estes, depois de terem caminhado durante nove meses, tendo por guia a Estrela, chegaram à meta exatamente quando Maria tinha dado à luz.
Precisa-se saber que naquele tempo o reino persiano dominava todos os reis do Oriente, por causa do seu poder e das suas vitórias. Os reis eram irmãos.
Eles eram chamados de magos não porque fossem espertos na magia, mas porque tinham grandes conhecimentos da astrologia.
De fato, entre os persas se dizia mago, aqueles que os judeus chamavam “escribas”, os gregos de “filósofos” e os latinos de “sábios”.
Eles faziam cálculos para saber o dia e o local onde ocorreria o nascimento de Jesus, marcando o advento e o início de uma Nova Era. A estrela de Belém, tão mencionada nas escrituras, pode ter sido um alinhamento planetário. Eles foram denominados Santos Reis após o nascimento do Messias.
I.S. Bernardi– 67 anos
Escrito em atividade de oficina de memória – produção de texto através de imagem.
HÁ 62 ANOS ATRÁS
Lembro muito bem ainda quando criança, meu pai nos levou para fazer uma viagem de trem. Saímos de São Carlos, cidade onde eu morava, fomos até Santos.
O trem que saía de São Carlos fazia baldeação aqui na estação da Luz. Durante a viagem o trem ia passando por lugares lindos que hoje já não vejo mais.
Passava por fazendas, via muito gado. Paramos na estação da Luz para esperarmos o trem que ia para Santos. Meu pai ia nos explicando tudo por onde passava o trem, éramos em seis, três homens e três mulheres.
Nunca irei me esquecer, durante a viagem minha mãe fez lanche para comermos porque a viagem era longa e as coisas para comer eram caras. Ficávamos olhando as pessoas sentadas em mesas no vagão para comerem.
Nessa época minha mãe estava com seis filhos todos pequenos, a mais nova ainda bebê. Ficávamos todos juntos na barra de cada um para ninguém se perder.
Quando chegamos em Santos foi uma festa, praia e sol, minha mãe usava um guarda-chuva por causa do sol, meu pai de sapato e meia, recordações que jamais esqueceremos.
Os dias passaram muito rápido, logo viemos embora.
A volta também foi muito linda, cansados os pequenos dormiam nos bancos duros do trem.
Foi muito bom. Saudades! Lembro-me até hoje do cheiro do trem, do barulho do trem, o apito e o maquinista, um senhor moreno, face muito alegre, fazia festa com as crianças.
I.S. Bernardi – 66 anos
Escrito em atividade de oficina de memória com produção de textos
Sra. M. L. Sales – 72 anos
Esta e outras histórias você poderá conhecer no livro MESTRES DA VIDA – DOADORES DA SABEDORIA – com atividades produzidas em Oficina de Memória com produção de textos.
“Vicente fino”
Como se meus ouvidos estivessem agora, ouvindo dona Artemísia contar, a história de Vicente Fino, que hoje vou te narrar:
Lá longe no Nordeste, havia um casal com seu filho. Este chamado Vicente, se achava todo sabido.
Certo dia o pai de Vicente foi trabalhar na roça como sempre. Na hora do almoço a esposa contente, preparou-lhe um prato bem gostoso e quente, mandando o filho ao pai rapidamente.
O menino durante o caminho, não resistiu ao gostoso cheirinho, comeu a mistura rapidamente, arrumando os ossos da galinha limpinhos, sob o arroz e o feijão ainda quentinhos.
Ao encontrar o pai, o menino Vicente, entregou o prato descaradamente. Faminto, o homem desamarrou o pano que a embrulhava ardente, olhando a comida desapontadamente. Ao olhar os ossos deitados no arroz com feijão, o homem olhou para o menino, perguntando bravo, o que era aquilo?
Ligeiramente, o menino disse que a mãe ao lhe fazer o prato, estava com outro homem e distraidamente, mandando-lhe apenas aquilo.
Velozmente, o homem voltou para a casa sem pensar e com uma foice desferiu um golpe na esposa, sem ao menos nada lhe perguntar. A esposa já agonizando, perguntou porque ele a estava matando e o marido desaforadamente, contou-lhe a história de Vicente, todo contente!
Ainda lhe restando vida, a mãe rogou uma praga em Vicente, dizendo ao filho querido, que estava morrendo inocente.
– “Por sete anos será lobisomem, um bicho guloso e feio, que na noite de lua cheia andará sete freguesias, comendo pomposo só as galinhas! ”
Eu ainda criança, conheci o rapaz na minha vizinhança. O tal mentiroso menino, de tão pálido e franzino, apelidaram de Vicente Fino!
É PROIBIDO BEIJAR!
Vou contar uma história, difícil de acreditar,
Nem mesmo eu sei, como pude me enganar.
Era moça e desimpedida e só sabia respeitar,
Meus pais me ensinaram, que era proibido beijar!
— Beijar só depois do casamento! –Falava papai para me intimidar.
— Menina, vê se te cuida e nunca há de beijar, senão vai engravidar! – Ensinava mamãe para me amedrontar.
— Olha bem o que vai fazer e não adianta fazer às escondidas. Se um dia você beijar, sua boca vai te entregar! – Alertava vovó, deixando claro que toda boca de moça fica diferente após o primeiro beijo.
Aos dezoito anos minha irmã fui visitar e na frente de sua casa, os garotos estava a admirar.
Eu contemplava, eles também,
Apenas uma olhadinha, não fazia mal a ninguém!
Tomava cuidado, para não ficar mal falada,
Moça que beijou antes de casamento, nenhum marido arranjava.
Estava eu bem na porta e vi um moço bonito passar,
Saindo do tiro de guerra, ele caminhou a me fitar.
Veio em minha direção e meu coração começou a disparar,
Arrancou-me um beijo roubado, que eu correspondi sem pensar.
Assim que ele foi embora, fui para dentro desesperada,
Olhar meus lábios no espelho, esperando a transformação indesejada.
Fiquei horas ali observando, cada pedacinho da boca,
Esperando a mudança que vovó dizia e que certamente não seria pouca.
Depois de tanto tempo, nada aconteceu,
Mas lembrando do que mamãe dizia, meu corpo estremeceu.
Posso ter sido privilegiada e minha boca não ter sido alterada,
Mas a barriga há de crescer e eu ficarei mal falada.
Porque não pensei nisso tudo, na hora do beijo correspondido?
Agora era tarde demais e meu mundo já estava perdido.
Depois de dias em pranto, deduzi que tudo era mentira,
Quanta lembrança saudosa, da melhor época que já existira!
Sra. A. S. Oliveira – 67 anos
Esta e outras histórias você poderá conhecer no livro MESTRES DA VIDA – DOADORES DA SABEDORIA – com atividades produzidas em Oficina de Memória com produção de textos
Sra. R. M. Souza – 66 anos
Esta e outras histórias você poderá conhecer no livro MESTRES DA VIDA – DOADORES DA SABEDORIA – com atividades produzidas em Oficina de Memória com produção de textos.
REZA PARA QUEBRANTO
Antigamente era muito comum as pessoas falarem em Quebranto, uma reza decorada que era pronunciada quando as pessoas estavam com mal-estar, ocasionado por mau-olhado. Geralmente a pessoa sentia fraqueza e um desânimo que diziam que melhorava quando a reza, de crença popular, era proferida.
Uma das rezas que conheço é assim:
Bom homem deu-me a pousada,
E a má mulher fez a cama.
Que fique teu quebranto,
Entre a palha e a lama.
Em nome do Pai, do Filho
E do Espírito Santo,
Amém.
AINDA ME LEMBRO…
… do DEPÓSITO DE CARVÃO. A maioria das casas tinha fogão a carvão, que era comprado em sacos na carvoaria. Quando ia terminando o carvão, precisávamos ir até a carvoaria (nada de telefone ou internet) para fazer um novo pedido e o carvoeiro fazia a entrega em casa, em uma carroça puxada cavalo.
Recomendação importante do freguês (e não cliente) ao carvoeiro:
— Não vai me entregar carvão com cheiro de xixi de gato hein…!
… do uso dos CAVALOS. Era muito comum o uso de carroças puxadas a cavalo para diversos fins, como coleta de lixo por exemplo.
Havia um padeiro alemão que fazia uns pães ao gosto dos estrangeiros imigrantes e vendia-os de porta em porta, com uma carroça puxada a cavalo. O pão comum precisávamos ir comprar na venda (não era padaria).
Os bairros possuíam muitos terrenos baldios, onde os cavalos eram levados por seus donos para pastar (nada de terreno abandonado e cheio de entulho, tudo tinha serventia).
A maioria das famílias tinha horta em casa e como adubo, além da compostagem que fazíamos, também usávamos o esterco de cavalo. De vez em quando ia com minha mãe, no final de tarde, com lata e pá em punho catar esterco nos terrenos baldios em que tinham estado os cavalos. Para mim, criança, era uma farra! Dá para imaginar tudo isso hoje em dia, olhando para os prédios de alto padrão que ocuparam os terrenos de Indianópolis (SP)?
… das NOVELAS no RÁDIO. O rádio do passado é extremamente diferente do rádio da atualidade. No início, os programas eram transmitidos ao vivo, tudo feito na “raça”, o que não permitia erros por parte dos locutores e artistas.
Os artistas de novela de rádio (era assim que se fala na época) eram muito famosos. César Monteclaro tinha uma voa linda de galã e sempre fazia papéis românticos. Mais tarde soube que era feio de doer e como ele mesmo dizia: — Como um homem tão feio pode querer trabalhar na TV?
Também tinha Walter Foster, um outro galã com bela voz, Xisto Guzzi, José Parisi, Fernando Balleroni, Dionísio Azevedo e outros. Arrancavam suspiros apenas pelo rádio!
Entre as mulheres, destacavam-se Lia Borges de Aguiar, Sônia Maria, Vida Alves, Yara Lins, Flora Geni… inspiradoras!
Lembro muito de Sarita Campos, a radialista que fazia um programa de rádio chamado Consultório Sentimental. Sarita representava Madame d’Anjou, uma conselheira que respondia às cartas enviadas pelas ouvintes, mulheres de antigamente com seus problemas domésticos e sentimentais, diferentemente das mulheres de hoje em dia.
… das MÚSICAS. Um grande sucesso naquela época era a música Alza, Manolita, cantada por Francisco Alves…
Era uma tarde em Sevilha,
Quando uma dama, formosa eu vi,
Era a mais graciosa filha, daquela terra que estava ali,
Ao seu lado um garboso rapaz,
Que belo tipo de toureador,
Que dizia-lhe, em chama voraz,
Coisas bonitas, frases de amor.
E a bela escutava com todo o prazer,
As frases do guapo rapaz a dizer.
Alza, alza, Manolita , meu coração teu será,
Meu amor minha querida,
Será teu por toda a vida,
Enquanto vida eu tiver,
Não serei de outra mulher,
Vai à buena dicha e verás,
Que as cartas não mentem jamais !
No outro dia a formosa, quis da verdade, bem se inteirar,
Como era muito curiosa, a cartomante, foi consultar,
Eu quero saber com certeza, se Pedro, meu toureador,
Me ama com toda firmeza ou se ele jura um falso amor !
As cartas abertas ali sobre a mesa,
A velha responde com toda firmeza.
Alza, alza, Manolita, eis o Valete a afirmar,
Teu Pedro minha querida,
Será teu por toda vida,
Enquanto vida ele tiver,
Não será de outra mulher,
Crê no que digo e verás,
Que as cartas não mentem jamais.
Mas chega um dia um chamado, para o toureiro, ir à Madri,
O coração desolado, de Manolita, ficava ali,
Cacilda, rival nos amores, de Manolita, quer se vingar,
E pra causar dissabores, mil falsidades, vai lhe contar.
Teu Pedro, não morre de amores por ti,
Chamado por outra, vai ele a Madri.
Alza, não posso acreditar,
Que Pedro queira, me enganar,
Teu amor minha querida,
Será meu por toda a vida,
Enquanto vida ele tiver,
Não será de outra mulher,
Vai à buena dicha e verás,
Que as cartas não mentem jamais.
Chega porém de Madri, uma noticia de entristecer,
Pedro, na praça dali, fora ferido, estava a morrer,
Manolita, toda chorosa, a cartomante vai consultar,
E diz-lhe em voz lacrimosa, vê se meu Pedro pode escapar,
As cartas abertas, seu peito lhe estala,
A velha tremendo, tristonha lhe fala.
Alza, alza, Manolita, tudo na vida tem fim,
Teu Pedro minha querida, foi teu sempre na vida,
Eis-me o Valete a afirmar, teu Pedro acaba de expirar,
Reza por ele na paz,
Que as cartas não mentem jamais !!!….
…. Minha mãe dizia para não cantar jamais esta música, pois tinha fama de dar azar.
***
… da CADERNETA. Antigamente, como a maioria das famílias não possuía geladeira, comprava-se o leite conforme a necessidade de cada dia. Podia-se comprar duzentos e cinquenta ml, quinhentos ml, um litro, ou mais, de acordo com o tamanho da família. O mesmo acontecia com o pão, feito em filão, que também podia ser comprado aos pedaços. Essas comidas e outros mantimentos eram comprados na “venda”, onde o “freguês” levava uma caderneta (uma espécie de caderno pequeno), onde o vendedor anotava a compra efetuada e também num caderno grande que ficava em seu poder. No dia do pagamento, somava-se os valores do caderno do vendedor e da caderneta, que deveriam bater, para o “freguês” pagar sua conta.
… da MANTEIGA. Antigamente não existia margarina, então, mamãe comprava a manteiga na feira. A banca tinha pacotes grandes de manteiga e vendiam em pequenas quantidades, cem ou duzentos gramas, por exemplo. Para conservar a manteiga por uma semana, colocávamos em uma vasilha funda, coberta com água e guardada em um canto fresco do armário da cozinha. A água precisava ser trocada a cada dois dias e para quem gostasse de manteiga salgada, bastava colocar sal na água.
… do SORVETE de GROSELHA. Os sorvetes eram feitos em sorveterias do bairro e os sabores se restringiam ao creme, coco, limão e chocolate. Eles eram encontrados em picolé ou massa, servidos em copinhos. Até hoje não sei porque o sorvete de groselha era vendido somente no palito, mas era o mais delicioso, principalmente porque chupávamos aquela groselha geladinha, até que no palito não restasse nada além de gelo.
AINDA ME LEMBRO, de meus melhores dias…
Sra. B. G. Ribeiro – 76 anos
Esta e outras histórias você poderá conhecer no livro MESTRES DA VIDA – DOADORES DA SABEDORIA – com atividades produzidas em Oficina de Memória com produção de textos
Construção de história a partir de elementos combinados
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